Não costumo abordar violência ou intolerância nos meus (parcos) textos. Não é que não me importe. Tem muita gente que aborda o tema com mais subsídios e, portanto, tem melhores condições de escrever do que eu. Mas esses assassinatos me preocuparam muito. Seriam crimes de ódio? Pura intolerância? A pouca repercussão dos casos também me preocupa, por isso mesmo resolvi escrever.
O primeiro caso apareceu na manhã de segunda-feira, dia 24. O assassinato deve ter acontecido na noite de domingo. Uma travesti conhecida por Natasha foi assassinada a pedradas no lugar onde fazia ponto, na Av. JK, no CIC. Segundo moradores da região, houve gritos de socorro por volta de duas da manhã.
O segundo caso foi na noite seguinte. Desta vez, a travesti foi morta a tiros e o corpo foi encontrado no limite do Bairro Boqueirão com o Município de São José dos Pinhais. Na notícia do jornal O Estado do Paraná de hoje, a segunda vítima ainda não havia sido identificada.
No primeiro caso, há suspeitas de que além de prostituição e intolerância, o consumo de crack e álcool tenham influenciado os acontecimentos. Dívidas de drogas pagas com sangue não são necessariamente novidade em Curitiba e região. Se for esse o caso, e a opção sexual não tenha motivado o crime, este vai para outra estatística não menos cruel, porém de motivação “comercial” e não de ódio.
Para onde se olha, o cenário é de terror. Só que os monstros não são de ficção, não há nada sobrenatural. Os monstros são humanos brutalizados pela miséria, pela intolerância, pela falta de valores humanos, pela lei do mais forte. Uma realidade difícil de se reverter. A máxima de que violência gera violência se encaixa com perfeição neste ciclo vicioso.
Nada justifica a crueldade de um assassinato a pedradas e outro com tiros desfigurando a face de uma vítima com a calcinha abaixada; claro indício de que uma relação sexual estaria acontecendo ou em vias de acontecer. Parecem crimes de ódio, de intolerância, pura brutalidade contra uma opção sexual.
Não consigo imaginar outra forma de combater a intolerância se não com diálogo e valores humanos de solidariedade e respeito às diferenças. Políticas públicas de proteção à infância e à juventude, com acesso universal a escola pública de qualidade, saúde, e condições dignas de renda e moradia ajudariam. Enfim, uma sociedade voltada para o coletivo, para os valores de convivência e não para o individual e para o comercial.
Gentileza gera gentileza.
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