quarta-feira, 14 de março de 2012

Mudar para continuar tudo igual

Na segunda-feira Ricardo Teixeira e João Claudio Derosso renunciaram das presidências da CBF e CMC, respectivamente. Ambas as renúncias foram motivadas diretamente por denúncias de corrupção. Não fossem as denúncias, muito provavelmente suas gestões erráticas se prolongariam ou serviriam de trampolim para voos maiores. Teixeira queria a FIFA. Derosso almejava qualquer coisa com status superior a um reles vereador de Curitiba.

Meu amigo Joel Benin costuma dizer que até a guerra é negociada em algum nível. Dentro da guerra, até as sacanagens mais sacanas são negociadas. A renúncia dos dois também foi, claro. Manoel Carlos Karam fala dos subterrâneos inconfessáveis da política com maestria e muito humor no seu “Jornal da Guerra contra o Taedos”. Esclarecedor.

O fato é que Teixeira e Derosso renunciaram quando perceberam que a cada dia sua situação pioraria. Então era entregar os anéis para pelo menos manter os dedos. A filha do Teixeira ainda apita forte na CBF e o PSDB e a turma do Beto prometeram uma reabilitação em médio prazo para que o barbudo ex-manda chuva da CMC saísse de cena para não prejudicar (ainda mais) a eleição municipal deste ano.

Fora isso, e alguma biografia arranhada, as coisas não devem mudar em nada. O cara que assume a CBF é um filhote da ditadura que embolsou uma medalha da copinha Júnior de Sampa. Olhe o nível!. O vereador que substituirá Derosso deve ser um dos beneficiados (praticamente todos eram, ou são) da farra feita com dinheiro de publicidade(!) da CMC.

E, onde eu quero chegar? Quero entender por que oTeixeira e o Derosso não caíram antes. Ora, quem estava contra eles, já estava antes das denúncias. E quem estava a favor, não mudou de opinião por causa das denúncias.

Desde a queda do Collor no começo dos anos 90, as denúncias de corrupção são uma forte arma política. Na ótica da média nacional é praticamente a única.

Ora, se fosse só por discordar da forma escrota como o Teixeira conduzia a seleção brasileira de futebol masculino, jogando contra seleções inexpressivas, em partidas caça-níqueis pela Europa, ou em algum emirado petrolheiro, o cara ainda estaria lá. Se fosse pela quase absoluta falta de apoio ao futebol feminino, no máximo alguma crítica nos rodapés dos jornais. Mudar, sem chance.

Mesma coisa o Derosso, que não largaria o osso só por tocar a CMC como se fosse a sapolândia. Só. Só????? O que era para ser a casa do povo curitibano virou poleiro para frangotes e pavões que tentam superar seus voos de galinha, sem medir esforços ou largar o saco do prefeito, do governador, almejando um poleiro mais alto para melhor aparecer e mais calibre proporcionar às sua negociatas. Honrosa exceção é a brava oposição. Desnutrida, mas brava.

Eu acho que a gente mais avançada para as bandas da esquerda sofre de uma certa letargia e as denúncias como as elencadas contra o Derosso acabam soando como uma ordem unida e daí conseguimos fazer marolas, vanzeros (como se diz na minha terra) e alguma canoa acaba virando.

Mas é duro viver só disso. E a ideologia, as idéias, os princípios, não servem de nada?

P.S. : O livro do Karam pode se encontrado aqui, ó: http://kafkaedicoes.com.br/catalogo_index.asp

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