Curitiba faz aniversário numa terça-feira nublada. Não chega a ser fria, mas o céu é cinza.
Diriam alguns que acreditam no estilo e no destino: “tinha que ser”. Isso eu não sei e não mexo. O que eu sei é que há uma porção de coisas que “não tinham que ser” assim como são.
Tem um ônibus azul agora, sentam 50 e tantos, mas cabem(!) 270. Isso é um presente, vejam só, os trabalhadores que carregam essa cidade nas costas, a constroem, limpam, montam, lavam e cozinham, agora podem ir trabalhar enlatados numa lata maior.
E não é só isso! Começa hoje o Festival de Curitiba, que era de teatro e agora é maior... com dezenas (sei lá quantas) peças. Os trabalhadores nem podem reclamar, pois tem até peças na rua pra quem não pode pagar...
Copio e colo um trecho de um texto publicado no Site do Deputado Federal Dr. Rosinha: http://drrosinha.com.br
“Em bairros como Batel e Jardim Social, o rendimento médio dos chefes de família chega a ser até 15 vezes superior ao valor médio dos bairros mais pobres. Enquanto o do Batel recebe R$ 8.839 por mês, o do Tatuquara, por exemplo, dispõe de R$ 798.
Não fosse pelo processo de expulsão contínua de faixas de menor poder aquisitivo – cada vez mais empurradas para as cidades da região metropolitana – , essa incrível disparidade dos indicadores sociais entre os bairros de Curitiba seria ainda mais gritante.
Afinal, quantas Curitibas diferentes existem? Como se dá o acesso aos serviços públicos, aos bens culturais, aos bens de consumo, ao esporte, ao lazer, em cada região da cidade?”
Sei que a exclusão não é mérito de Curitiba, mas é aqui que eu vivo e a vejo diariamente.
Eu gosto daqui. Há coisas lindas, mas há muita intolerância, muito desrespeito, muita falcatrua. A Curitiba que eu viajo (valeu, Dalton) não é a Curitiba da multa que dá pra apagar se tiver pistolão; não é a Curitiba da linha verde engarrafada e pela metade; não é a Curitiba sem creche e sem saúde. Não pode ser.
Deve haver outra Curitiba em algum lugar, e acho que a gente devia procurar por ela. Essa daí, da foto, não serve para a maioria do seu povo que a constrói todo dia depois de sair das latas vermelhas, cinzas, amarelas e agora azuis.
3 comentários:
"A tal cidade europeia só existe na ficção", já dizia o Terminal Guadalupe.
Bela perspectiva, meu caro.
Aquele abraço!
Valeu Douglas,
Abs
Eu que, que moro do lado de lá da linha "verde" que o diga, né, I?
Cidade da exclusão, onde sou uma das excluídas, feliz(?) aniversário!
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