quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A linha evolutiva indie (1986-2011)

André Barcinski em seu Blog na Folha cometeu essa "linha evolutiva indie". Como ele mesmo diz, não é completo nem sério, mas é engraçado. Bem que ele podia ir à raiz do termo no boom punk de 76, em que a falta de espaço nas gravadoras fez pipocar os selos independentes, dando origem ao cirquito e às paradas "indie". 
Já que ele não fez isso, quem sabe eu faça. Pena que não me pagam... Vamos lá:

Acompanho a cena musical brasileira desde o meio/fim dos anos 80.

Nesse quarto de século, pude presenciar a evolução e as transformações por que passou uma das criaturas mais curiosas de nosso panorama musical alternativo: o indie.

Sim, o indie, esse eterno descontente, sempre remando contra a maré da música comercial e popular. Um eterno revoltado, para quem ninguém presta se for conhecido por mais de 14 pessoas.

Em homenagem a esse espécime tão importante de nossa fauna alternativa, tentei fazer uma genealogia de seu progresso no Brasil, desde seus primórdios (do indie, não do Brasil).

Claro que nenhum trabalho desses pode ser absolutamente completo, dada a capacidade de mutação indie e o número gigantesco de gêneros, subgêneros, microsubgêneros e nanomicrosubgêneros existentes.  Limitei-me apenas aos grupos mais populosos e populares.

Sâo eles:

1985-1989 – O INDIE GENÉRICO
Até o fim dos anos 80, os indies eram poucos e unidos. Nessa época, ou você ouvia New Order, Sisters of Mercy, Smiths, Cure, Echo and the Bunnymen e Joy Division, ou ouvia Kiss e AC/DC. Não havia meio termo.
Logo os indies genéricos começaram a se desmembrar e formar subgêneros, como os indies góticos e os indies industriais. Vinte anos depois, os filhos de fãs dos Smiths criaram um subgênero indie importantíssimo, os emos.
Ícone: Ian McCulloch

1989 – O INDIE SHOEGAZER
Os indies descobrem a microfonia. Começam a aparecer meninas com camisetas de Sonic Youth e My Bloody Valentine e caras com cabelo de esfregão. O primeiro disco do Stone Roses, confundido na época com “shoegazer”,  foi um “must”.
Ícone: Kim Gordon

1990 – 1993 – O INDIE UNIVERSITÁRIO
Muito antes do forró, o indie também teve seu subgênero universitário. Foi a época em que os indies descobriram bandas inteligentes e de letras engraçadinhas, formadas por nerds que não comiam ninguém, como Pixies e Pavement.
Um subgênero do Indie Universitário é o Indie Colegial, com nerds um pouco mais jovens, mas que também não comiam ninguém, como o Weezer
Ícones: Kim Deal, Rivers Cuomo

1991-1992 – O INDIE GRUNGE
Tipo indie de vida curta. Começou no “Bleach” e acabou no “Nevermind”, quando o Nirvana apareceu na MTV e passou a não prestar de uma hora pra outra.
Ícone: Mark Lanegan (Cobain não, muito popular)

1992- 1994 – O INDIE BRITPOP
Quem achava o grunge muito barulhento preferiu botar uma golinha rolê, cortar o cabelo tigelinha e se acabar na pista ao som de Blur, Pulp e Oasis.
Ícone: Damon Albarn

1996 – O INDIE LOSER
Quando Beck lançou “Odelay”, um monte de hippies que tocavam “Travessia” em acampamentos sentiram pela primeira vez o chamado do indie rock. E as pistas foram invadidas por alternativos vestidos de mendigo.
Ícone: Beck

1997 – O INDIE SENSÍVEL
Quando o Radiohead lançou “OK Computer”, não poderia imaginar que estava ajudando a criar uma nova categoria de indie. De uma hora pra outra, guitarras barulhentas estavam “demodé”. O negócio era cantar juntinho com Thom Yorke, de olhos fechados e balançando a cabeça na pista, tipo Stevie Wonder.
Ícone: Thom Yorke, claro

1998 – O INDIE FOFINHO
Subgênero mais irritante do indie sensível, surgido com o aparecimento do Belle and Sebastian. O indie fofinho gostava de dançar em grupos de oito ou dez, sempre fazendo passinhos coreografados e mãos para o alto.
Ídolo: Stuart Murdoch

2001 – O INDIE GRAVATINHA
Brechós em todo o mundo vibraram quando os Strokes lançaram “Is This it”, em 2001. De uma hora pra outra, todo mundo assaltou o guarda-roupa do avô e roubou os paletós de tweed e as gravatinhas ridículas. Outros itens obrigatórios: cabelos desgrenhados e cara de quem acabou de acordar.
Ícone: Julian Casablancas

2004 – O INDIE LOS HERMANOS
Fase negra: barbas frondosas, visual de estudante da PUC e o início das Havaianas como ícone indie. Os alternativos descobrem que podem cantar em Português. Marcelo Camelo renega a única música pop decente que fez, “Anna Julia”, e vira ídolo indie.
No Leblon, Caetano Veloso sente algo no ar e começa a bolar seu plano de dominação da cena alternativa. Dois anos depois, monta uma banda com outros barbudos e lança o disco “Cê”.
Ícone: Camelo

2007 – O INDIE BARBA E BONÉ
Subgênero pequeno mas muito influente. Fãs de dub, MPB, Tortoise, Nação Zumbi e pernambucanos em geral. Donos de um visual cuidadosamente desleixado, com barbas desgrenhadas fio a fio, para máximo impacto “slacker”, camisas quadriculadas justinhas e o indefectível boné quadrado.
Ícone: Cartola

2008 – O INDIE NEW RAVE
Passou como um raio. Três meses apenas, em que tentaram convencer o mundo que o Klaxons iria nos salvar. Todo mundo cansou de ser sexy rapidinho.
Ícone: Lovefoxx

2010 – O INDIE ADULTO CONTEMPORÂNEO
Trevas. Como bem disse um amigo, “o Jeneci está para o Camelo assim como o Jorge Vercilo está para o Djavan”. Ou seja: estão tentando piorar o que parecia o fundo do poço.
O indie finalmente cai no samba  comTulipa Ruiz, Rômulo Fróes e o citado Jeneci. Aliás, cai não, que é muito povão; o indie pensa e reflete sobre o samba, sacou? É o transamba. E, pra piorar, ainda conseguiram reabilitar o Arnaldo Antunes.
Ícones: Cartola e Tom Zé

2011 – ???

Quem será? Alguém se habilita?

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