segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A corrente, a virada, os “ricos alternativos” invadindo nações independentes

Participei de alguns shows da chamada virada cultural, parte da corrente cultural... Meio confuso esse negócio. Mas foi ótimo assistir ao Paulinho da Viola ali na Praça Generoso Marques, ao Roberto Carlos, ao Pato Fu no Largo, ao Tremendão... Enfim, foi o que consegui acompanhar e sinto pelo que perdi. Queria muito ter visto a Sandra de Sá, os amigos do Charme Chulo e Copacabana Club e tantos outros shows legais que rolaram. Fatou fôlego e pernas para ficar tanto tempo em pé.

Fora alguns detalhes menores, o evento foi memorável. Alegrou boa parcela do povo curitibano, sem falar nos artistas que devem adorar ter esse contato assim na rua.

Digo isso tudo por que recebi um e-mail esquisito, com um texto escrito por Yuri Campagnaro, publicado no Site do Sinditest (www.sinditest.org.br), o texto critica a UFPR por investir na recuperação de alguns prédios ao invés de gastar o dinheiro com problemas mais urgentes, e por aí vai. Critica também a participação da Federal na Corrente Cultural. Lembro que o evento é uma parceria da UFPR com a Prefeitura e FIEP, além de outras entidades e empresas.

Não participo do cotidiano da UFPR e desconheço seus problemas atuais, mas já ouvi críticas à atual direção da instituição. Não vou questionar isso, mas teve um trecho do texto do Yuri que me incomodou:
“Mas para que a classe média e os ricos frequentem o requintado espaço [região central e histórica de Curitiba], os usuários de drogas, moradores de rua e prostitutas da área deverão ser varridos do centro para qualquer outro lugar longe dos olhos dos ricos alternativos. O problema da marginalidade não é resolvido, apenas mudado de lugar por meio de um policiamento intenso e violento e de câmeras de segurança. Mais uma vez se trata de "higienizar" um centro que é “modelo” de urbanismo, limpeza, civilidade e riqueza, fingindo que não existem problemas.”

Então eu sou um rico alternativo e não sabia.

Vou direto ao ponto: sou muito crítico ao modelo administrativo municipal, mas não há como ser contra a revitalização que a região da Rua Riachuelo está recebendo. Não acho que os moradores de rua e as prostitutas devam ser varridos, mas não concordo em tratar traficantes, usuários de drogas e prostitutas como uma nação independente intocável. Pois, se a região é violenta, quem sofre são os moradores, comerciantes e as pessoas que por lá passam.

Sei que a questão não é simples. São vários problemas de nossa sociedade que se aglutinam. Desemprego, desigualdade, exclusão, falta de um serviço de saúde pública adequado, violência policial, enfim... A lista é grande. Mas eu vejo ações como a virada cultural mais como algo que ajuda a solucionar problemas que o contrário.

Dezenas de milhares, ou até centenas, participaram das atividades. Não sei precisar, mas era muita gente. Chamar essa gente toda de “rico alternativo” é muito tosco, é um reducionismo esquerdista que beira o desespero pela ausência de discurso. Se a Prefeitura e a UFPR acertaram em produzir a virada, ponto pra eles. Isso não vai apagar os desmandos e o descaso de como o lixo e o transporte público vêm sendo tratados, só para citar dois (mau) exemplos.

Os problemas não somem como mágica, mas a arte ajuda a gente e enxergar o mundo de maneira mais clara e intensa. Pode ajudar a resolver os problemas também.

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