quinta-feira, 18 de março de 2010

“Rotina”, ou “batendo com a cara na parede”

Todo dia de manhã eu dobro a Fernando de Noronha à direita na rápida e encaro aquela subidinha que me leva ao topo do morro, provavelmente o motivo do bairro se chamar Boa Vista. Devia ser lindo quando a vista de lá era verde. Será?

A vista de hoje é uma parede feita de prédios, muitos prédios. O Cabral – Juvevê – Ahú – Alto da XV – Centro é uma parede de prédios visto do Boa Vista.Essa parede me faz vacilar. Mesmo acelerando, deixando correr, eu vacilo. Vou meter a cara nessa bosta de parede de novo?

Mas é mesmo uma Boa Vista. A pequena e média burguesia curitibana mantém algumas árvores entre os prédios (valoriza!) e os pinta de cores agradáveis.

Confrome vou descendo, a parede vai se desfazendo e vou entrando naquele bioma, naquele ecossistema, naquele organismo cheio de grades, cercas, olhos, anticorpos, defesas. Tem que ser um vírus camuflado, tem que ser ou parecer útil ao organismo para entrar. O que não serve é repelido.

Eu vou, sirvo (ou pareço servir) em alguma função rara. Não me percebem muito. Faço o meu papel, parasito um pouco e no fim do dia (ou da noite) volto para minha Boa Vista. Dia seguinte, de cinco em cinco com dois de pausa, eu volto, viro a direita na rápida vindo da Fernando de Noronha e encaro a parede.

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